Afropunk Bahia celebra cultura negra com Mano Brown e Margareth Menezes
“Vamos curtir o dia de hoje, que o amanhã só pertence a Deus. A vida é loca”, disse Mano Brown, responsável pelo último show da primeira edição do Afropunk no Brasil, neste sábado (27).
O Centro de Convenções Salvador, na capital baiana, recebeu cerca de 3.000 pessoas para a estreia da versão brasileira do maior festival de celebração da cultura negra do mundo. Por causa da pandemia, uma versão reduzida, mas com ingressos esgotados.
O vocalista do Racionais MC’s recebeu no palco a cantora Duquesa, um jovem talento nacional do R&B. Juntos entoaram “Vida Loka – Parte 1”, parte de um repertório que ainda contou com outros clássicos do rap como “Negro Drama”, “Vida Loka – Parte 2” e “Jesus Chorou”, que encerrou uma apresentação relativamente curta com aproximadamente uma hora.
Brown fez reflexões comuns em suas apresentações, celebrou o momento, mas fez o público se lembrar de que ainda enfrentamos a pandemia de Covid e citou as vítimas da doença e das políticas públicas ruins.
“Perdemos entes queridos e amigos, que vão deixar um vazio em nossas vidas. Temos que imaginar que o milagre da vida é um triz”, afirmou.
A mescla de ritmos e gerações permearam o festival, que promoveu outros encontros. O ícone Margareth Menezes dividiu espaço com Malía.
Antes de entrar em cena, a cantora baiana falou ao Lineup sobre essas parcerias.
“Sempre cultivei isso no meu trabalho, eu gosto”, afirmou. “Eu acho que aqui na Bahia a gente também curte muito isso, né? De a gente convidar o outro e tal, a gente tem essa dinâmica. Enriquece a cena.”
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Ao subir ao palco Margareth Menezes foi ovacionada —e não poderia ser diferente.
De um lado para o outro, pulando e dançando com muita vitalidade, ela exibiu hits como “Alegria da Cidade”, “Capoeira Mundial” e “Minha Diva, Minha Mãe”, com Malía, além de atender os fãs que pediam freneticamente “Faraó”, que não estava no script.
Nos bastidores, Margareth ainda evidenciou a importância do Afropunk ser realizado na Bahia, fora do eixo Rio-São Paulo.
“É uma uma porta que se abre para todas as tendências da música afro-urbana”, comemora. Quando se fala em afro, contiua, pensamos muito em ancestralidade, mas o termo não se resume a isso. “É potente, atual, urbano”, enumera.
A capital baiana foi escolhida como ponto principal do Afropunk no país por ser conhecida como a cidade mais negra fora da África. Nasceu em 2005, em Nova York, e desde então é realizado em cidades como Atlanta (Estados Unidos), Paris (França), Londres (Inglaterra) e Joanesburgo (África do Sul).
Para ela, festival é um evento que deveria ter mais no Brasil inteiro para dar vazão à arte que se produz no país.
“Tem muito assunto e tem muita muitas tendências, né?”, afirma. “É a dinâmica da diversidade do comportamento, diversidade de expressão artística né? Então eu acho superbacana poder dar voz, trazer voz para a construção do pensamento da galera da periferia, da galera urbana, das misturas todas que existem.”
“A gente reverencia o rock de uma maneira muito bacana, mas a nossa raiz está muito mais ligada e muito mais acesa nessa nesse viés do afro”, indica. “A cultura afro faz parte da identidade nacional.”
A reflexão de Margareth vai justamente ao encontro da intenção do Afropunk. “Nossa missão é celebrar e impulsionar, hoje e sempre, a genialidade das expressões artísticas dos povos nascidos na diáspora africana e os nossos irmãos originários do lugar sagrado que hoje chamamos de Brasil”, diz o festival.
Com a missão de exaltar o protagonismo preto e afroindígena, a programação ainda contou com Tássia Reis em show com o bloco afro Ilê Aiyê, a baiana Luedji Luna ao lado do duo da Baixada Fluminense Yoùn, além da cantora Urias em parceria com Vírus.
DESEMBARQUE NO BRASIL
Por causa da pandemia de Covid-19, o Afropunk Bahia, que seria nos dias 28 e 29 de novembro de 2020, teve de adiar sua estreia no Brasil.
Segundo a organização, a expectativa inicialmente era de receber um público de até 20 mil pessoas em cada um dos dois dias do Carnaval da Consciência na capital baiana. Esse foi o mote definido após uma visita de Matthew Morgan ao estado. “O Carnaval na Bahia me inspirou e mudou minha vida”, diz o fundador do festival.
Para 2022, a organização já confirmou a segunda edição nos dias 26 e 27 de novembro.
FIM DE SEMANA NEGRO
Além do Afropunk neste sábado (27), Salvador abrigou outro evento de exaltação à cultura periférica na sexta (26). Carlinhos Brown e Larissa foram os músicos anfitriões com Rafa Dias, do grupo Àttøøxxá, no espetáculo Encontros Tropicais: Frequências do Gueto, no palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves, realizado pela Devassa.
Um público de cerca de 1.500 pessoas viu um show dividido em três partes com nomes como o rapper Criolo, DJ Dan Dan, a atriz e cantora Jéssica Ellen, Banda Didá e talentos novos também periféricos como WD, participante do The Voice Brasil, a rapper Stefanie, Lukinhas e Rafa Porrada, que revisitaram décadas de sonoridade com samba, soul, rap, pagode e funk.
O jornalista viajou a convite da Devassa, patrocinadora do evento
Carlinhos Brown, Larissa Luz e Criolo exaltam música do gueto em show em Salvador