Que nossa música sirva de consolo e protesto, diz Caetano em homenagem a Brumadinho
Exatamente um ano após a tragédia em Brumadinho, Belo Horizonte recebeu no sábado (25) a oitava edição do festival Planeta Brasil. O evento no estádio do Mineirão e em sua esplanada reuniu nomes como Caetano Veloso, Racionais MC’s, Djonga, Natiruts e Marcelo Falcão.
A organização e os artistas relembraram o desastre com a barragem da Vale na cidade mineira e ainda chamaram a atenção para as fortes chuvas que atingiram o estado nos últimos dias e já deixaram pelo menos 45 mortos, segundo a Defesa Civil.
“Foram até onde sabemos tragédias naturais”, afirmou Caetano sobre os temporais. “Mas há um ano houve uma tragédia em Brumadinho e não foi um desastre natural. Que a nossa música sirva de consolo e protesto”, completou o baiano, que subiu ao palco para um show apenas com voz e violão.
A água deu uma trégua durante o festival, que acabou realizado em um dia de sol encoberto —e uma leve garoa durante a noite.
No show do rapper mineiro Djonga foi pedido um minuto de silêncio.
“Vamos refletir sobre as nossas atitudes e como que elas refletem no dia a dia de outras pessoas. Pessoas que inclusive não podem estar aqui hoje. Muitas que perderam as casas, perderam as coisas pela chuva que está acontecendo”, afirmou.
“Nunca vamos deixar de cobrar o poder público, tá ligado? Nunca vamos deixar de cobrar essas pessoas que colocamos lá, independente de quem votamos. Mas nunca vamos deixar de fazer nossa parte, porque não dá para esperar nada de político nenhum”, disse Djonga, levando o público a gritar o tradicional coro em muitos shows pelo Brasil “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”.
O vocalista do grupo Natiruts, Alexandre, pediu bênçãos às vítimas e aos bombeiros, tido como herois.
O rompimento da barragem da Vale no Córrego do Feijão deixou 270 vítimas —259 identificadas e 11 ainda desaparecidas.
Boa música e festa
A oitava edição do Planeta Brasil, como em outros anos, fez uma mescla de gerações e ritmos —com artistas nacionais e estrangeiros.
Djonga, por exemplo, representa uma nova leva do rap brasileiro. Um show forte e impactante ganha ainda mais fôlego em sua cidade-natal. Em Belo Horizonte ele pinta e borda. Canta, grita, pula e vai para o bate-cabeça no meio da galera, pedindo “Fogo nos racistas”. O trecho está na música “Olho de Tigre”, que versa sobre temas como racismo e machismo. “Quem tem minha cor é ladrão/Quem tem a cor de Eric Clapton é cleptomaníaco”, diz o rapper negro em parte da canção.
Contrastando com a juventude, no mesmo palco Sul, o Racionais MC’s fez o encerramento da noite por ali. Principal nome do gênero no Brasil, o quarteto formado por Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay foi acompanhado pela mesma banda que esteve com eles durante a turnê comemorativa de 30 anos, em 2019.
“O público pediu e a gente seguiu com a banda neste ano. A recepção tem sido boa e a gente vai continuar”, disse Mano Brown ao Lineup após a apresentação, que teve no repertório “Diário de um Detento”, “Negro Drama”, “Jesus Chorou”, “Vida Loka pt. 1” e “Vida Loka pt. 2”.
Sem dar detalhes, Brown diz que neste ano haverá novidades. Mas seu companheiro Edi Rock avança. “Esse ano tem muitas novidades pra quem curte Racionais. Documentário pela na Netflix, DVD e estamos trocando ideia sobre som novo, sim”, conta o rapper.
Caetano Veloso subiu ao palco sozinho com seu violão e um microfone no fim da tarde. Sem grande produção, animou e emocionou o público com sucessos como “Baby”, “Menino do Rio”, “Reconvexo”, “Sozinho” e “A Luz de Tieta”. No pé do palco, Ana, do duo Anavitória (que se apresentou mais cedo), assistiu ao show com lágrimas ao lado de sua parceira, Vitória.
Já o rapper americano Tyga fechou a programação no palco Norte, que ainda teve como atrações o australiano Nick Murphy, o grupo Sticky Fingers e os brasileiros do Natiruts.
Kevin O Chris, Marcelo Falcão (ex-Rappa), Baco Exu do Blues, Melim, Black Alien, Majur, Don Diablo e Jão com Duda Beat também fizeram performances.
E quem aguentou as mais de 12 horas de festa ainda pôde ver o DJ Vintage Culture no gramado do Mineirão.