Antes nem éramos música, agora somos cultura, diz Edi Rock, do Racionais MC’s
“O Racionais MC’s é como a seleção brasileira. Convocou, tem que ir”. Essa é a analogia feita por Edi Rock, um dos integrantes do principal grupo de rap do Brasil. Ao lado de Mano Brown, KL Jay e Ice Blue, ele vai celebrar com uma turnê os 30 anos da banda em 2019.
O calendário de shows conta até o momento com nove apresentações pelo país. Passarão por Florianópolis (20/7), Uberlândia (2/8), Brasília (3/8), Curitiba (17/8), Rio de Janeiro (24/8), Belo Horizonte (14/9), Salvador (4/10), Recife (5/10) e São Paulo (12/10). Os ingressos têm preços que variam de R$ 40 a R$ 350.
Após três décadas, a trajetória do grupo ficou marcada pela revolução que os quatro amigos trouxeram ao gênero no Brasil. As letras com críticas sociais e escancarando mazelas da sociedade são características da discografia. As músicas de 20, 30 anos atrás seguem atuais. “Só mudam os números, a problemática é a mesma”, reforça Rock.
Ele diz que o rap chegou derrubando e quebrando preconceitos, que quebrou uma porta para poder ser ouvido. “Antes nem éramos considerados música, hoje somos considerados cultura”, afirma.
O preconceito sempre vai existir, o ser humano é preconceituoso, diz. Em sua visão, o rap superou estereótipos que atualmente são associados a gêneros como o funk. “O rap já passou essa fase do preconceito que o funk vive hoje, que antes era coisa de bandido, de presidiário”, relembra.
A série de shows da turnê será baseada na premiada apresentação que eles fizeram no fim de 2018 em São Paulo. Na discografia, eles levam os álbuns de estúdio “Holocausto Urbano” (1990), “Escolha o Seu Caminho” (1992), “Raio X Brasil” (1993), “Sobrevivendo no Inferno” (1997). “Nada Como um Dia Após o Outro Dia” (2002) e “Cores & Valores” (2014).
No repertório, canções que revisitam todas as fases da carreira. Hinos como “Diário de um Detento”, “Homem na Estrada”, Capítulo 4, Versículo 3″, “Jesus Chorou”, “Vida Loka” (parte 1 e 2) e “Negro Drama”.
Algumas geram polêmica por seu teor considerado machista. Edi Rock destaca duas: “Em Qual Mentira Vou Acreditar?” e “Estilo Cachorro”. “As músicas antigas estavam naquela época. O Brasil é machista. Ele melhora aos poucos, mas ainda é machista”, afirma.
Para ele, “Estilo Cachorro” é a pior. “Ele fala de várias minas que pega, cada dia uma, o que já é machismo por si só. ‘Segunda, a Patricia. Terça, a Marcela. Quarta, a Raissa. Quinta, a Daniela. Sexta, a Elisângela. Sábado, a Rosangela. E domingo, é matinê 16 o nome é Angela’. Então isso seria o quê? Corrupção de menor, abuso e pedofilia, tá ligado? Nos dias de hoje eu não falaria isso nunca!”
Edi Rock cita a importância do debate sobre violência doméstica e os altos índice de feminicídio. “Então você está voltando para a Idade da Pedra, quando os caras carregavam a mulher pelo cabelo. Sabe aquele desenho clássico?”
Essas músicas seguem nos shows pela importância histórica, mas ele diz que sempre há um aviso: “Eu tenho que consertar esse erro. Digo: ‘Rapazeada, não fala mais isso. Isso ficou 20 anos atrás. Nem pensar em agir dessa forma. A gente não incentiva. Temos que respeitar a mulher’.”
O Brasil polarizado politicamente também é um assunto presente nos debates do Racionais. Edi Rock observa a ascensão de políticos como o presidente Jair Bolsonaro como uma reação de um cidadão que quer mudança e está desesperado.
Segundo ele, a única mudança que a população viu “foi um cara falando em religião, em Deus e falando em se armar”. “As pessoas estão com medo, não saem mais de casa, não andam mais de carro. A solução é matar, prender e rezar.”
Edi conta que já foi convidado a se candidatar a cargos pelo PT, partido o qual costuma apoiar, mas negou por saber que “política é podridão”. “É um bagulho que não tem cura. O que está hoje é o filho que vem desde o bisavô, o avô, o pai e vai continuar. Você pode ver que os filhos do Bolsonaro estão com ele e não mudam as ideias. São piores que ele, sacou?”, exemplifica.
Ele conta que prefere brigar com os artifícios de que ele gosta, a música, no caso. Segue fazendo suas canções, em um momento que vê grande força e evolução no gênero. “O rap hoje é pop, antes era contracultura. É popular, todo mundo ama. Você não vê um filme sem hip-hop, você não vê um filme sem, uma novela sem uma batida de rap ou um trecho de rima, de verso”, ressalta.
O quarteto segue unido, com amizade firme, porém cada membro toca projetos paralelos. Edi Rock, por exemplo, está finalizando seu terceiro disco solo, que deve ser lançado até o meio do ano. Para este novo trabalho, ele conta com a participação de nomes como a sertaneja Marília Mendonça e o sambista Xande de Pilares.
“Você imagina eu cantando com um sertanejo no Racionais?”, diz. Para Edi Rock, o Racionais tem uma outra proposta, um rap mais pesado. No Rock in Rio, ele ainda tocará duas músicas com o Titãs.
Turnê Racionais 3 Décadas
FLORIANÓPOLIS
Quando: 20 de julho
Onde: Arena Petry
Quanto: R$ 40 a R$ 250
Mais informação: blueticket.com.br
UBERLÂNDIA
Quando: 2 de agosto
Onde: Arena Sabiazinho
Quanto: R$ 75 a R$ 350
Mais informação: ingressorapido.com.br
BRASÍLIA
Quando: 3 de agosto
Onde: Ginásio Nilson Nelson
Quanto: R$ 50 a R$ 200
Mais informação: eventim.com.br
CURITIBA
Quando: 17 de agosto
Onde: Live Curitiba
Quanto: R$ 60 a R$ 220
Mais informação: diskingressos.com.br
RIO DE JANEIRO
Quando: 24 de agosto
Onde: KM de Vantagens Hall RJ
Quanto: R$ 40 a R$ 300
Mais informação: ticketsforfun.com.br
BELO HORIZONTE
Quando: 14 de setembro
Onde: KM de Vantagens Hall BH
Quanto: R$ 40 a R$ 140
Mais informação: ticketsforfun.com.br
SALVADOR
Quando: 4 de outubro
Onde: Arena Fonte Nova
Quanto: R$ 50 a R$ 160
Mais informação: eventim.com.br
RECIFE
Quando: 5 de outubro
Onde: Classic Hall
Quanto: R$ 50 a R$ 180
Mais informação: eventim.com.br
SÃO PAULO
Quando: 12 de outubro
Onde: Credicard Hall
Quanto: R$ 40 a R$ 300
Mais informação: ticketsforfun.com.br