Dead Kennedys cancela shows no Brasil após repercussão de pôster
O Dead Kennedys cancelou os quatro shows que faria no Brasil após a repercussão de um pôster. O anúncio foi feito pelo Facebook da banda nesta sexta (26). Contatado às 17h, Eliel Vieira, dono da produtora EV7 Live, afirmou que não havia sido avisado. “Eu não fui comunicado, soube pelo Facebook deles. O agente não me ligou, estou vendo como proceder”, disse por áudio no WhatsApp.
Por volta das 17h30, a página de ingressos avisava que o evento havia sido cancelado e que haverá “em breve maiores informações a respeito do reembolso.”
Após a divulgação de uma arte encomendada para a turnê no país, a banda solicitou à produção nacional que não a utilizasse. O momento político polarizado vivido no país influenciou a decisão.
Foi criado um desenho exclusivo pelo ilustrador Cristiano Suarez. Na imagem, a família do palhaço Bozo está vestida com camisetas da seleção brasileira segurando armas. Para completar o cenário, tanques de guerra e uma favela pegando fogo. Um dos personagens diz: “Eu amo o cheiro de gente pobre morta pela manhã”.
Os internautas começaram a comentar a alusão que teria sido feita ao presidente Jair Bolsonaro —que, por vezes, é chamado de Bozo— e a seus eleitores.
“O promotor no Brasil realmente não soube como gerenciar as coisas da forma correta. Sem nos contatar sobre o assunto, ações estúpidas foram tomadas e que fizeram com que os pregadores de ódio se manifestassem por todos os lados”, escreveu o Dead Kennedys em português.
“Mesmo assim, nós consideramos que o pôster ficou bem legal e nós concordamos com a ideia. As consequências criaram uma situação bastante perigosa para nossos fãs que frequentam nossos shows. Nós nunca colocamos nosso público em risco, visto que isso não representa o que somos.”
“Por esta razão, infelizmente estamos bastante tristes em informar que a banda não mais poderá tocar no Brasil este ano. Sentimos que esta é realmente a única alternativa de manter as pessoas seguras.
Segundo relatos de pessoas ligadas ao processo, os integrantes da banda —Skip, East Bay Ray, Klaus Flouride e D.H. Peligro— gostaram da arte. O guitarrista Ray, inclusive, enviou uma mensagem ao artista elogiando o trabalho. Embora eles tenham gostado, a decisão foi tomada em conjunto com toda a equipe que os gerencia.
“O tipo de trabalho que dá orgulho de fazer. Dead Kennedys sempre foi minha banda de hardcore predileta, desde a época que eu era moleque!”, disse Suarez em suas redes sociais antes da solicitação do grupo.
O perfil da banda no Instagram compartilhou a arte, mas apagou. No Facebook, posteriormente, chegou a publicar uma nota em que dizia que “o pôster divulgado não reflete uma declaração política ou o posicionamento do Dead Kennedys. A mensagem básica da banda tem sido, e ainda é, pedir às pessoas que pensem por elas mesmas, não dizer a elas o que pensar”, versava a nota apagada. O texto feito pela equipe de comunicação do grupo foi deletado porque não foi aprovado pelos integrantes.
De acordo com a produção, a banda recebeu “emails não muito cordiais de quem não gostou da arte e não quis mais se vincular ao cartaz.”
Segundo Eliel Vieira, a banda não havia dado palpite em relação ao pôster. “Eles ficaram assustados com a repercussão muito forte. Muita gente falando que era uma crítica ao presidente”, diz ao Lineup.
Depois do texto deletado, muita gente pensou que a arte não tinha relação com o show, mas Suarez rebateu as críticas na internet.
“O nome da banda precisou sair daqui, mas só queria reforçar que a arte foi, sim, oficial, diferente do que a mídia tá publicando. Foi postada no perfil OFICIAL da banda e removido logo após o boom das publicações e dos trending topics do Twitter, logo depois foi liberada uma nota, que também foi apagada quando se deram conta que muitas pessoas já tinham visto.”
Políticos e artistas como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o músico Marcelo D2 compartilharam a arte.
Seria a quarta vez que a banda de San Francisco (EUA), formada em 1978, viria ao Brasil: Circo Voador, no Rio (23/5), Tropical Butantã, em São Paulo (25/5), Toinha Brasil Show, em Brasília (26/5), e Mister Rock, em Belo Horizonte (28/5).
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