Kasabian faz primeiro show solo em SP com alma, energia e riffs
Mateus Camillo
Com a pontualidade britânica, os ingleses da banda Kasabian sobem ao palco e dão início ao show às 21h30 no Credicard Hall, em São Paulo, no encerramento da turnê do sexto álbum “For Crying Out Loud”, lançado em 2017.
Outra marca britânica presente na apresentação: sem rodeios, eles vão direto à música, e o público só recebe um tímido “Hello, São Paulo” depois da segunda faixa.
Mas os fãs não sentem falta de um aceno. “Ill Ray (The King)“, faixa que abre o novo disco e também deu início ao show, já pôs todo mundo para dançar com seus riffs enérgicos.
O setlist, com todos os álbuns presentes, é inteligente e traz na sequência o clássico “Underdog”, do quarto disco, que embala quem ainda não tinha entrado no clima.
O show é bem conduzido pelo vocalista Tom Meighan —–que aparenta cansaço de fim de turnê e já declarou que fará projeto solo na sequência-–– e pelo guitarrista Serge Pizzorno, um verdadeiro showman com estilo hipster-psicodélico, que faz rodinha no meio da galera com “Treat” e manda
ver um “Parabéns a você” a uma fã antes do bis.
Pizzorno é a alma da banda, tanto no palco quanto nos CDs. “For Crying Out Loud” foi composto em três semanas pelo guitarrista e o resultado é um disco vibrante e com personalidade, bem aceito pela crítica e um dos melhores do quarteto inglês de Leicester.
O repertório do show mostra ainda, deste álbum, “You’re in Love With a Psycho“, “Wasted“, “Bless This Acid House“ e “Comeback Kid“ —–todas conseguem empolgar o público, algo nem sempre comum no disco mais recente de uma banda.
(E aqui é importante um parêntesis. Tom Meighan passou por um período de depressão em 2016 e a turnê o álbum o ajudaram na recuperação. E é essa energia “para abrir o coração” —–palavras de Pizzorno-–– que o disco inteiro passa)
Mas só clássicos como “Club Foot“ e “Fire“ realmente tiram todo mundo do chão e são capazes de criar aquela atmosfera indescritível que todo fã sabe sentir.
A decepção fica por “L.S.F.” e “Empire“, dos dois primeiros álbuns, que deveriam entrar no rótulo de hits acima descritos, mas perdem força ao vivo.
Essa foi a terceira passagem do Kasabian pelo Brasil —–já haviam estado no Planeta Terra em 2007 e no Lollapalooza em 2015–— e a primeira em show solo.
Com mais de 20 anos de estrada e consolidada como uma das melhores bandas do indie rock, o show em São Paulo repetiu o público de Santiago, no Chile, e Buenos Aires, na Argentina, as duas cidades anteriores —–mas longe de estar lotado.
O que talvez não seja tão ruim para os fãs, já que o mainstream sempre causou certa aversão nesse cenário.
Mas se impõe como desafio na hora de definir seu papel na história do indie rock.
“For Crying Out Loud” corrobora a visão de que Kasabian pode estar no pelotão de frente, como vanguarda e defensora de um gênero prestes a entrar em sua terceira década de vida.
Para isso, um bom começo são shows como esse em São Paulo.